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João Alfredo Lopes Nyegray*

O comércio internacional é um forte motor do crescimento econômico e da geração de empregos. Nações outrora economicamente estagnadas, como China, Índia e alguns países do Leste Europeu, perceberam no comércio exterior um mecanismo de aceleração econômica. Nos Estados Unidos, cada US$ 1 bilhão de crescimento das exportações gera mais de 20 mil empregos. Como apontou Tamer Cavusgil, graças ao comércio internacional “o rápido crescimento econômico dos países emergentes está estimulando sólidas conquistas nos padrões de vida. A crescente prosperidade acarreta melhorias nos índices de alfabetização, nutrição e saúde.”

Por isso vale tanto à pena dedicar-se aos negócios internacionais. Nessa área, cada país, possui vantagens competitivas na produção de certos itens. Enquanto a China – graças a sua larga mão de obra – se destaca na produção de manufaturados, o Brasil, por seu tamanho continental e sua variedade climática, é bastante competitivo no campo: de soja a açúcar, passando por proteínas animais. Assim, possuímos uma clara vantagem na exportação de commodities, o que se percebe com facilidade ao olhar a balança comercial.

A força do agronegócio brasileiro há muito tempo assusta os europeus. O açúcar brasileiro sofre restrições quantitativas para entrar na União Europeia, além da alíquota de cerca de 93 euros por tonelada. Cotas são aplicadas também à carne bovina, ao etanol e a outros produtos, visando proteger os pequenos agricultores. Automóveis fabricados no Mercosul – obviamente não são commodities – mas pagam uma tarifa de cerca de 35% para entrar naquele continente.

Esses fatores, em conjunto, travam a assinatura final de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que vem sendo negociado há quase 20 anos. Os europeus querem proteger seus pequenos agricultores, obviamente ameaçados pela escala e eficiência produtiva brasileira no setor agrícola. Os países membro do Mercosul, em especial o Brasil, esperam manter a quebra de patente de medicamentos e conseguir vender um número maior de produtos na Europa.

Todas essas divergências de posição levam em conta os fatores internos de ambos os blocos, sendo absolutamente naturais. É dever dos governos estimular seus setores produtivos, em especial aqueles mais vantajosos e rentáveis. Ao mesmo tempo, os países tentam proteger, de alguma forma, as áreas consideradas mais vulneráveis. Ainda assim, também é necessário ampliar os mercados para os nossos produtos, o que ocorreria através do acordo.

Outro complicador notável são as incertezas econômicas e políticas no Brasil e na Argentina. Os argentinos sofreram neste ano uma intensa desvalorização de sua moeda e pediram recursos ao FMI. O Brasil também viu o real se desvalorizar, e ainda que a economia tenha dado alguns sinais de melhora, o nível de desemprego permanece alto e há muito o que fazer. Somada à questão econômica de nosso país, a incerteza da corrida eleitoral preocupa investidores externos e internos: a possibilidade da eleição de um candidato ou candidata não comprometido com as reformas da previdência e do setor tributário pode elevar o risco do país e afetar largamente as contas públicas, travando ainda mais o crescimento.

Nesse cenário, o acordo comercial que poderia facilitar a inserção dos produtos brasileiros no continente europeu, se arrasta vagarosamente. Uma vez que a internacionalização de nossas empresas é facilitada, a produção, o emprego e a industrialização aumenta. Tradicionalmente, empresas que atuam nos mercados externos são menos suscetíveis a crises econômicas, e por muitas vezes confrontarem-se com mercados mais exigentes, aumentam a qualidade de seus produtos e serviços.

A internacionalização permite também maiores economias de escala, acesso mais fácil a recursos e impacta diretamente na balança comercial do país.

No que tange ao acordo Mercosul-EU, o Brasil tem sido mais cauteloso ao efetuar concessões do que a Argentina, Uruguai e o Paraguai, o que reduz as esperanças de que o dito tratado seja concluído nesse ano.

Seja como for, com ou sem tratado, há outra forma de estimular as exportações: desburocratizando o comércio exterior, que sofre hoje com mais de 3.600 normas diferentes, aumentando a eficiência aduaneira para envio e recebimento de mercadorias; e buscando melhorar nossas relações comerciais com a China e com os países da Aliança do Pacífico. Talvez seja esse um dos papéis do próximo ou da próxima mandatária da nação: aumentar a inserção dos produtos e das empresas brasileiras nos mercados mundiais. Se isso acontecesse, certamente teríamos um país mais próspero.

 

*João Alfredo Lopes Nyegray, doutorando em Estratégia, é mestre em Internacionalização, advogado e bacharel em Relações Internacionais. É professor dos cursos de Relações Internacionais, Comércio Exterior, Administração e Economia da Universidade Positivo (UP).

 

Crédito: Divulgação
Fonte: Central Press